O partir do vidro

Tudo aquilo que alguma vez quiseste saber sobre (a minha) poesia e algo mais...

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Localização: Ermesinde, Porto, Portugal

Há pessoas perfeitas...mas não sabem o que fazer com essa perfeição.Eu não sou dessas...porque não sou perfeito

abril 28, 2006

Ensaio antecipado da morte de um romance

Confessei-te, amargamente, que me sentia tão sozinho e tu perguntaste-me rápidamente: - "Vamos mergulhar? Vamos?".
Ok. Acabou-se para mim. Cedi. Mergulhei. Vi turvo. Não vi. Sinceramente não quis ver. Disseste-me que sabias o caminho. Agarrei-me á tua mão muito mais do que me agarrei á vida. Depois de nadarmos quilometros sem vir á tona, chegamos, finalmente, a uma qualquer plataforma. Deite-me encharcado, arassado, no chão duro. Olhei para ti, perfeita e seca, deitada num chão infiel, a sorrir. Não te culpo, porque cansado como estou só quero descansar.
Tocas-me duramente no braço e dizes: - "Estás pronto para mais uma viagem?". Sei perfeitamente que não estou, mas aceno-lhe serenamente com a cabeça e com um sorriso perdido nos lábios: - "Vamos".
Paramos a meio desta nossa maratona e quase me beijaste. Eu estava perdido, meio morto. Só queria chegar lá...mas eu nunca soube onde tu querias chegar. Paramos novamente. Só que desta vez tu não estavas perfeita. Estavas coberta de lama, com os olhos sujos da maquilhagem que começaste a usar sem eu saber. Estava a morrer de frio, mesmo assim tirei a minha camisola e limpei-te o rosto. Ficaste linda outra vez.
Perguntei-te: - "É aqui?Chegamos?". Tu respondeste: - "Não...não chegamos...ainda falta...". Eu estremeci e cerrei os dentes. Não conseguia mais. - "Vamos então?", perguntei eu. - "Desculpa, não consigo mais. Não consigo mais nadar neste mar...é sempre o mesmo...". Paralizei. Os meus olhos devem se ter enchido de vermelho. Eu não sabia caminho nenhum dali para fora. Olhei-a nos olhos. Tentei chegar ao fundo da alma dela. Pedi-lhe ajuda telepáticamente. Disse novamente que não. Mandei-me brutamente contra a agua suja...passado mil horas acordei banhado em suor na minha cama...sozinho.

Pelo que eu vi, fui eu quem sempre soube o caminho. Fui eu quem te puxou por todo este mar. Esgotei-me. E só agora é que me lembro que tu sempre disseste que não sabias nadar...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Simplesmente apeteceu-me dizer-te que, por vezes, o nosso coração é, de facto, cego porque apesar da razão nos dar provas constantes mais do que seguras, confiáveis, de que aquilo que necessitamos está mesmo à nossa frente, queremos sempre espreitar e conhecer o que está por detrás...
Sem segundas intenções, queremos descobrir e, de certa forma, desvendar (ou construir) um futuro pleno de sentimentos puros, vivo, coerente e quando isso não acontece, acreditamos que nos enganamos, erramos e aprendemos. E o mais importante de tudo é o facto de, se conseguirmos admitir, avançamos e ainda vamos a tempo de alcançar esse caminho...
Foi o meu primeiro comentário no teu blog e penso que disse o apropriado.
Meu amigo, gosto muito de ti.

5/03/2006 01:36:00 a.m.  

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