O partir do vidro

Tudo aquilo que alguma vez quiseste saber sobre (a minha) poesia e algo mais...

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Localização: Ermesinde, Porto, Portugal

Há pessoas perfeitas...mas não sabem o que fazer com essa perfeição.Eu não sou dessas...porque não sou perfeito

março 23, 2005

Nada haver com o blog...mas...teve que ser.

Caralho

"Afonso Praça escreveu um "Novo Dicionário de Calão" que merece compra, consulta e leitura. Não é obra perfeita. Existem falhas. A maior delas encontra se na pág. 61 e respectiva definição de "caralho".
Ouçamos: "Termo chulo para designar o pénis; usa se também como expressão de irritação ou revolta".
Certo. Parcialmente certo. Mas só parcialmente. Afonso Praça não teve cuidado com os regionalismos. Não olhou, por exemplo, para o Porto. O "caralho" do Porto não é um "caralho" qualquer. Nem sequer é expressão de "irritação" ou "revolta". O "caralho" do Porto não agride. É um "caralho" meigo, nobre, íntimo, expressão sincera de amizade. No Porto, quando ouvirem chamar pelo "caralho", convém olhar para trás. O "caralho" podemos ser nós. O "caralho" é um tratamento entre amigos que se amam e respeitam. Como "caralho" que são. Ser um "caralho" é ser amigo de alguém.
No fundo, é ser amigo de um outro "caralho". Aliás, a expressão tem um significado tão profundo, que é sempre acompanhada de um possessivo.
Ninguém é, simplesmente, "caralho". Quando um portuense chama o "caralho" do amigo, trata o sempre por "meu caralho", ou "seu caralho". Há um sentido de posse entre "caralho". Os "caralho" pertencem se.

Onde é que andaste, meu "caralho"?
Por aí a pastar. E tu, seu "caralho"?

Claro que existem excepções. Nem toda a gente chega ao estatuto de "caralho". No Porto existem também os "caralhos" em potência: são os "caralhotes" (que Afonso Praça igualmente esquece). Um "caralhote" é alguém que tem todas as condições para ser "caralho" mas ainda não chegou lá.
Talvez com a idade. Talvez com a experiência. Ou talvez nunca. Um "caralhote" pode transformar se em "caralho" ou não. Se falhar, não fica "caralho" isso é que era doce! Se falhar na carreira da "caralhice", torna se na mais reles espécie de "caralho" que existe sobre a Terra. Torna se azedo. Pulha. Inimigo do seu amigo.Transforma se num "caralhão".

Quem é aquele "caralho"?
Aquele "caralho"? Aquele "caralho" é um "caralhão" de primeira. Nem te conto.

O ideal, portanto, é começar por ser "caralhote" e dar o salto para o "caralho", fugindo dos "caralhões". E como é que isso se faz? Eu só conheço uma maneira: evitando "encaralhar"."
Tenho dito....
(Autor anónimo)

março 16, 2005

Quando os ossos crescem mais do que a carne

Quando os ossos crescem mais do que a carne e a alma fecha mais do que os olhos, eu não sei respirar. Quanto vale a visão? Quanto custa respirar ar tolerávelmente puro? Qual será o preço daquela boa sensação de acordar de manhã que eu já não sinto há tanto tempo que nem sei? Se amar é considerado uma boa acção, Deus sai do meu lugar. Se o ódio é morte...o meu caixão está pregado com as estacas que esventraram Jesus Cristo na merda da Cruxificação.
Quando os ossos crescem mais do que a carne é claro que esta cede e rompe e doi tanto viver assim. Quanto me ira custar olhar-te nos olhos e sentir-te desabar por dentro? Quanto? Mais um osso que dilacera um pedaço de carne? Mais um? Que seja.

março 07, 2005

Não viverei da mesma forma outra vez

É necessário conhecer o efeito para se saber a causa. É preciso conhecer o gentil para se puder ser duro. É obrigatório conhecer a verdade se alguma vez quisermos mentir. É imperativo ter a perfeita noção daquilo que está depois do antes para conhecermos e compreendermos esse antecedente.
O apaixonar...a noção mais antrópica que conheço até hoje. Como é possível nos apaixonarmos se não conhecemos plenamente a pessoa e o que se segue? Repito...é imperativo ter a perfeita noção daquilo que está depois do antes para conhecermos e compreendermos esse antecedente.
Trocando a ordem:se quisermos saber o estilo de vida de uma pessoa, temos de conhecer o estilo da morte...a sua causa.
A mentira...talvez a noção mais mecânica que já encontrei. Mecanismo inato que surge como auto-comiseração ou quem sabe, protecção do nosso ego, na sua totalidade. Isto tendo em conta que só existe um tipo de mentira...sabendo nós que existem vários. Mentira...mecanismo de acção social que cometemos sem nos apercebermos para nos inserirmos e adaptarmos melhor à "nossa" sociedade.
Noção...sem dúvida o desintegrar/arruinar de tudo aquilo que é natural. O catalogar da ordem desejada pela mão da mãe natureza. A junção de tudo aquilo que é artificial. O desespero de alguêm que num dia triste conseguiu entristecer ainda mais a sua vida dando nomes sinteticos a tudo o que via.
Escrita...a meretriz. O desabafar de todas as gerãções conhecidas até hoje. Sinceramente, na minha opinião, escreve-se para atenuar e evitar aquilo que todos não desejamos...o suicídio. Afasta-se o indesejável. Mas por quanto tempo?
Eu...o complemento de todas as coisas que considero banais, trocando e processando-as na minha mente de forma a obter algo abstracto. Sou o extremamente simples mas que toda a gente tende a complicar. Sou o lado triste do meu coração...sou explicitamente normal dentro da minha originalidade.