O partir do vidro

Tudo aquilo que alguma vez quiseste saber sobre (a minha) poesia e algo mais...

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Localização: Ermesinde, Porto, Portugal

Há pessoas perfeitas...mas não sabem o que fazer com essa perfeição.Eu não sou dessas...porque não sou perfeito

junho 02, 2005

22 anos de sonhos perdidos

"Aqui, neste lugar, eu sou Deus", ouço ao longe. O meu sorriso nervoso denunciou-me. As pupilas dilatam...o medo entra por mim dentro. Viro costas e corro o mais que posso contra o vento, até que a minha pele começa a ser corroída pela velocidade. Os ossos outrora escondidos, agora revelam-se. O meu maxilar desprovido de epiderme é algo completamente repugnante.
Não aguento mais. Paro de correr e deito me, estendido, no chão frio. Fecho os olhos...
Vejo o cupido a voar por cima de mim e a dizer me adeus. Vejo todos os deuses a ignorar-me, na sua simpatia inata, até que uma mulher pega pela minha mão decadente e esboça o sorriso mais daVinciano que os meus olhos já viram. A perfeição sintetiza-se naquela boca. Resolvo abrir os olhos...
O chão estava cada vez mais longe...e nós a voar. Passamos por sitios totalmente alternativos. Vi guerra, paz, amor, ódio, raiva... Vi todo o tipo de sentimentos que todos nós conhecemos.
Ela não chegou a pronunciar uma única palavra, até que finalmente pousamos. Ela perguntou-me se eu tinha gostado do que tinha visto. "Mas eu já vi isto tantas vezes", respondo eu...Ela, sorri novamente e entrega-me uma arma. Eu, idiota, pergunto lhe para que é aquilo. Ela responde:"Já vais perceber". E ao mesmo tempo que acaba de dizer a frase, a sua figura transforma-se totalmente para a de um ser completamente horrendo. Fico apático. Aproxima-se de mim, enfia-me uma das mão pelo peito e arranca-me o coração. Fico completamente chocado. "Nunca mais irás sentir!", diz me e afasta-se.
Estou ali parado com um buraco no peito, mas nem dor sinto. Quero chorar mas as lágrimas não saiem. Olho para a arma que tenho na mão e percebo o seu propósito. Elevo a arma à altura da tempora...suspiro...sorrio...disparo...desfaleço...mas antes de perder imediatamente os sentidos, ouço as palavras "Aqui, neste lugar, eu sou Deus". E a minha face embate violentamente contra o chão negro e duro e o corpo cai mole...os meus olhos ficam abertos e antes de morrer consigo distinguir lá ao longe, algumas letras de uma suposta palavra:"Infer..."...e a luz apaga-se.